ALTERAÇÃO DA FALA E TROCAS DE GRAFEMAS NA ESCRITA
Os fonemas são unidades sonoras abstratas que transmitem diferenças semânticas. Muitas vezes, a diferença de significados é marcada pela escolha de um fonema que se diferencia de outro por um único traço distintivo, como é o caso de palavras que se opõem pelo traço de sonoridade. Para chegar à descoberta do fonema a criança (o aprendiz) necessita adquirir e desenvolver a Consciência Fonológica, uma competência metalinguística que possibilita o acesso consciente ao nível fonológico da fala e a manipulação cognitiva das representações neste nível, que é tanto necessária para a aprendizagem da leitura e da escrita como dela consequente. O desenvolvimento da consciência fonológica tem sido frequente e consistentemente relacionado ao sucesso de aprendizagem da leitura e da escrita (Bowey, Cain & Ryan, 1992). A relação entre a consciência fonêmica, consciência fonológica no âmbito do fonema, e a aquisição de leitura é recíproca bidirecional, ou seja, à medida que a consciência fonológica se desenvolve, esta facilita o aprendizado da leitura, que, por sua vez, propicia o estabelecimento da consciência fonêmica. Bentim, Hammer & Cahan (1991) demonstram que tanto a idade como a escolaridade influenciam o desenvolvimento da consciência fonológica. A aquisição da leitura e da escrita requer um ensino formal mesmo em se tratando de crianças inteligentes e saudáveis, enquanto para a aquisição da linguagem oral é necessário, apenas, que tais crianças sejam criadas em um ambiente estimulante, no qual a linguagem seja utilizada. Além disso, o que leva o aprendizado da leitura e da escrita a ser mais difícil é o fato de que a fala, ou a articulação da linguagem oral, não é composta de sons isolados, o que torna a representação alfabética uma abstração. Distúrbio da leitura e escrita é uma manifestação referente ao desenvolvimento da linguagem, que se caracteriza pela dificuldade na aquisição e/ou no desenvolvimento da linguagem escrita por crianças que apresentam déficits tanto de decodificação fonológica como de compreensão da linguagem oral e/ou escrita. Que segundo Gough & Tunmer (1986), as crianças inseridas nesse distúrbio, são leitores fracos por atraso de desenvolvimento. A leitura consiste de dois componentes: A Decodificação - refere-se aos processos de reconhecimento da palavra escrita, e Compreensão - é definida como o processo pelo quais as palavras, sentenças ou textos são interpretados (Gough & Tunmer (1986). No processamento da linguagem escrita estão inseridos quatro processadores, são eles: Processador ortográfico (representa o conhecimento visual das palavras), Processador semântico (armazena significados de palavras familiares como conjuntos de elementos de significados mais primitivos interassociados), Processador contextual (representa o conhecimento do contexto em que este enunciado se insere e está a serviço da construção de uma interpretação coerente durante o processo da leitura do texto) e Processador fonológico (contém uma complexa rede de unidades primitivas associadas. A imagem auditiva de cada palavra, sílaba ou fonema corresponde à ativação de um conjunto interconectato dessas unidades. Quando a imagem visual de uma sequência de letras está sendo processada no processador fonológico. Se a sequência é pronunciável, então o processador fonológico manda de volta uma informação que contribuirá para a decodificação da palavra escrita. Segundo Adams (1991), o processador fonológico presta dois valiosos serviços para o processamento da leitura: provê um sistema alfabético de suporte, indispensável à manutenção da velocidade e à precisão do reconhecimento da palavra necessária para a leitura produtiva; e promove um meio de expandir a memória durante a leitura, para as palavras individualmente, essenciais para a compreensão do texto.
CRIANÇAS COM DIFICULDADES NA FALA Atenção especial no período de alfabetização. Falar é um ato que envolve as estruturas dos aparelhos respiratório e digestivo, além de funções como respiração e deglutição. Quando qualquer um desses fatores é afetado, podem surgir distúrbios da fala, passíveis de correção através de tratamento especializado. As alterações da fala têm causas fisiológicas. Respiração bucal, língua, bochechas, dentes e maxilares mal posicionados geram alterações na arcada dentária e problemas de pronúncia das palavras. O uso prolongado de chupeta, sucção de dedo e alimentação pastosa por muito tempo prejudicam a mobilidade e tonicidade dos órgãos fonoarticulatórios. Fatores hereditários, traumas, timidez, e até mesmo o bilingüismo também podem comprometer a comunicação oral da criança. Dentre as alterações mais comuns, destacamos as seguintes: Deglutição atípica: é o pressionamento atípico da língua ou interposição anterior ou lateral da língua nos dentes, podendo levar a alterações na pronúncia dos fonemas (T/D/N/L) e ceceio lateral ou sigmatismo (S/Z). Dislalia:A criança troca letras, fala enrolado. Consiste em: 1) troca de fonemas: |F| por |V|, |G| por |C|, |T| por |D|, etc. 2) omissão de fonemas: sapato/ apato, palhaço/paiaço. 3) distorção: papagaio/ papaigaio. 4) inversão: televisão/tevelisão. Ocorre também de não se entender nada ou pouca coisa do que ela fala. A dislalia poderá ser um problema sério se persistir além da idade de aquisição normal da fala que é 4 anos, podendo deixar a criança inibida, tímida, causada pelas observações dos amiguinhos (ele fala errado!!!). Os pais e professores devem estar atentos, pois no período de alfabetização a criança pode transferir as trocas da fala para a leitura e escrita. Disfluência ou gagueira: a criança, por volta dos 3 a 4 anos, apresenta uma gagueira fisiológica. Dependendo de como é vivenciada, passa naturalmente ou se instala e os fatores emocionais e hereditários podem interferir nesse processo. Para estimular a fluência recomenda-se brincar com ritmo, música, teatro, dramatização, poesia, etc. Os pais devem evitar ao máximo corrigir e pressionar a criança, dando atenção especial ao conteúdo da mensagem e não a forma como ela está falando. Não completem as palavras, dando o tempo necessário para que ela termine a frase tranquilamente. Os pais devem evitar comparação e discriminação, ter calma, paciência e reduzir a ansiedade para não transferir ao filho. Atraso na aquisição da fala: algumas crianças começam a falar muito cedo, já na época do primeiro aniversário e outras que falarão só final do segundo ano de vida. A partir dessa idade, as crianças que apresentam vocabulário restrito, dificuldade em elaborar frases, dificuldade de compreensão, fala ininteligível e uso de gestos podem necessitar de tratamento especializado para estimulação da fala. Dentre as causas do atraso na aquisição da fala, destacamos: Fatores hereditários e falta de estimulação de modo geral; Fatores afetivos: abandono, rejeição, superproteção e ambiente familiar; Fatores orgânicos: rubéola, viroses, prematuridade, anoxia, etc.; A Dislalia é um distúrbio da fala que se caracterizado pela dificuldade de articulação de palavras: o portador da dislalia pronuncia determinadas palavras de maneira errada, omitindo, trocando, transpondo, distorcendo ou acrescentando fonemas ou sílabas a elas. Quando se encontra um paciente dislálico, devem-se examinar as os órgãos da fala e da audição a fim de se detectar se a causa da dislalia é orgânica (mais rara de acontecer, decorrente de má-formação ou alteração dos órgãos da fala e audição), neurológica ou funcional (quando não se encontra qualquer alteração física a que possa ser atribuída a dislalia). A dislalia também pode interferir no aprendizado da escrita tal como ocorre com a fala. A maioria dos casos de dislalia ocorre na primeira infância, quando a criança está aprendendo a falar. As principais causas, nestes casos, decorrem de fatores emocionais, como, por exemplo, ciúme de um irmão mais novo que nasceu, separação dos pais ou convivência com pessoas que apresentam esse problema (babás, por exemplo, que dizem “pobrema”, “Framengo”, etc.), e a criança acaba assimilando essa deficiência. Há alguns casos comuns específicos de dislalia, que envolvem pronúncia do “K” do “G”, nos quais, por falta de motilidade do palato mole, a pessoa omite tais fonemas (por exemplo, falando “ato” ao invés de “gato”; “ma’a’o” ao invés de MACACO). O “R” brando (que é pronunciado através da vibração da ponta da língua atrás dos dentes incisivos superiores); em muitos dos casos de dislalia, o “R” também costuma ser omitido ou pronunciado guturalmente (a pessoa fala como se fosse um francês ou um alemão falando Português). As trocas de letras mais comuns provocadas pela dislalia são de “P” por “B”, “F” por “V”, “T” por “D”, “R” por “L”, “F” por “S”, “J” por “Z” e “X” por “S”. Outra troca muito comum é o famoso “tatibitati”, que sempre acontece por excesso de mimos. Com isso, a criança fica falando de maneira entrecortada e infantilizada. É muito comum, por exemplo, encontrar adultos, sobretudo do sexo feminino, que foram excessivamente mimados na infância e cresceram falando de maneira infantil, o que pode lhes ser extremamente prejudiciais quando, por exemplo, fazem uma entrevista para conseguir um emprego. Esse problema pode se refletir também na escrita, e sua correção obedece aos mesmos parâmetros da correção dos problemas da fala. Os professores que trabalham com alfabetização devem dar uma atenção especial àquelas crianças que têm uma aprendizagem mais lenta e trocam letras ou apresentam outros sintomas da dislalia, insistindo com elas no sentido de que exercitem a pronúncia e ortografia correta das palavras. Estudos mais recentes consideram a linguagem escrita como parte de um continuum da linguagem oral e, as duas, como parte de um processo geral de linguagem. Portanto, aprender a ler e escrever depende de habilidades adequadas de processamento da fala. As principais dificuldades de Linguagem Escrita estão: - Nos processos gerais de linguagem: - Habilidades verbais e semânticas deficientes; - Falhas no processamento auditivo e na consciência fonológica; - Conhecimento limitado do vocabulário; - Habilidades de processamento inferencial e integrativas pouco desenvolvidas.
Na leitura (recepção): - Déficits de decodificação gráfica; - Dificuldade de compreensão do conteúdo lido.
Na escrita (expressão): - Disortografias (problemas ortográficos de diversas naturezas) e disgrafias (dificuldades diversas no traçado das letras); - Dificuldades no discurso escrito (textos pobres de conteúdo e de coerência).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adms; Abordagem adotada por A. 1991; baseada no modelo conexionista de Seidenbergg & McClelland, 1989;
martamonicacoelho@hotmail.com ...www.clinicamartamonica.hpg.com.br/;
Santos M. T. M. dos; Distúrbios de Leitura e Escrita Teoria e prática; ed Manole. Barueri, SP. 2002;
Alterações de Fala Contribuição da Fonologia Clínica
Estudos em fonologia clínica, verificaram, que a maioria das crianças com desordens significativas na comunicação oral tem pelo menos algumas dificuldades no nível fonológico da linguagem, ou seja, no conhecimento dos segmentos fonéticos e das regras fonológicas, ou em como utiliza esse conhecimento. A fonologia descreve a organização e as funções dos constituintes fonéticos da fala. A análise fonológica de uma criança com desordens de fala é, importante, uma vez que proporciona uma descrição dos padrões de pronúncia usados na linguagem falada da própria criança e, por comparação com os padrões do adulto, identifica as implicações comunicativas da desordem.
Caracterização dos desvios fonológicos
Desvios fonológicos são os desvios na produção dos sons da fala, apresentados por crianças que não possuem alterações orgânicas, como deficiência auditiva ou fissura palatina, entre outras.
Esses casos eram conhecidos como distúrbios articulatórios funcionais e atualmente são denominados desvios fonológicos, pois envolvem o sistema fonológico organizacional, e não o sistema fonético, da produção dos sons. As crianças com desvios, segundo GRUNWELL (1981), apresentam as seguintes características:
· Fala espontânea com muitos erros de pronúncia devido aos desvios na produção das consoantes.
· Idade superior a quatro anos, idade na qual a maior parte do sistema fonológico já está adquirida pela maioria das crianças.
· Audição normal.
· Integridade anatômica e funcional dos órgãos envolvidos na produção da fala.
· Ausência de alterações neurológicas capazes de afetar a produção da fala.
· Capacidade intelectual suficiente para o desenvolvimento da fala.
· Compreensão da linguagem falada, conforme a idade mental da criança.
· Desenvolvimento adequado da linguagem expressiva com vocabulário extenso e enunciado longos, estruturados gramaticalmente e apropriados ao contexto.
As crianças com desvios fonológicos podem apresentar problemas em outros níveis da linguagem como a sintaxe, a morfologia, o vocabulário, e esses problemas influenciam o componente fonológico.
Nesses casos, o desvio fonológico não é “específico”, mas faz parte de uma incapacidade geral na aprendizagem da linguagem.
A exclusão de patologia orgânica que afete a produção da fala é fundamental na diferenciação entre desvios de aprendizagem, conhecimento e organização fonológica e desvios da produção articulatória.
Crianças que possuem alteração orgânica que afete a produção oral, podem também apresentar alterações no sistema fonológico, decorrentes da patologia. Por isso, nesses casos, faz-se necessária uma avaliação fonológica juntamente com a avaliação fonética.
Avaliação fonológica das crianças
As avaliações baseadas na análise fonológica descrevem as desordens da produção oral (fala) de maneira científica, detalhada e individualizada.
Coleta de dados
A eliminação da produção lingüística da criança, a partir da qual será feita a análise e o diagnóstico da sua fala, pode ser obtida por repetição, fala espontânea ou nomeação espontânea.
A repetição é o meio mais rápido e fácil de verificar o emprego de todos os sons da língua, contudo a criança estará imitando o padrão utilizado pelo examinador, o que não reflete o seu verdadeiro inventário e sistema fonológico.
A fala espontânea é um excelente meio de avaliação, já que apresenta o sistema próprio das crianças e mostra o fluxo da linguagem. As desvantagens evidenciam-se pela não ocorrência de todos os fones contrastavas da língua em todas as posições que podem ocupar na sílaba e na palavra, deixando a amostra da fala incompleta. Para a coleta ser eficiente seriam necessárias longas horas de gravação.
Na nomeação espontânea, trabalha-se com objetos e desenhos conhecidos pela criança, onde ela terá que nomeá-los, sem ter o modelo articulatório como na repetição. É uma das formas mais completas de avaliação, com a vantagem de ser rápida, tanto na coleta de dados, como na notação e análise.
Existem diferentes abordagens para a análise dos dados: análise contrastiva, análise de traços distintivos e análise por processos fonológicos.
Análise Contrastiva
Procedimento que compara o sistema da criança com o sistema padrão adulto, que é o alvo a ser adquirido, a fim de detectar ou não um desvio fonológico.
Análise de Traços Distintivos
A aplicação da teoria dos traços distintivos a desvios fonológicos leva à descrição desses desvios como erro de traços, comparando o som realizado e o som alvo. Com isso, podem-se verificar as regularidades e o funcionamento do sistema com desvios utilizados pela criança, dando informações de natureza fonética e fonológica.
Análise por Processos Fonológicos
É realizada através da verificação das simplificações sistemáticas das formas adultas da fala, feitas pela criança. Esta é uma das formas de análise mais difundidas e utilizadas para investigação do sistema fonológico da criança.
A análise por processos fonológicos tem sua origem na teoria da fonologia natural, proposta por STAMPE (1969, 1973). Segundo esse autor, os processos fonológicos atuam nos padrões da fala da criança com o objetivo de facilitar a emissão da mesma.
Os processos fonológicos são inatos e naturais e, por serem inatos, são universais, isto é, ocorrem em todas as crianças, refletem as restrições naturais da capacidade humana para a fala e resultam em simplificações sistemáticas das formas adultas pela criança.
Stampe diz que processos são operações mentais, que são suprimidas gradualmente à medida que a criança domina o sistema. Embora não existam evidências dessa realidade psicológica dos processos, esse enfoque é muito útil e operacional como um modelo descritivo dos padrões de “erros” das crianças.
A partir dessa avaliação e análise, obtém-se um perfil da produção oral da criança, e é possível chegar ao seu sistema fonológico que, embora sendo diferente do sistema padrão adulto, é um sistema que tem ordem e regularidade próprias. Ficando assim, mais fácil um planejamento terapêutico adequado para a criança.
Tratamento
O tratamento fonoaudiológico visa auxiliar a criança em seu processo comunicativo, proporcionando mudanças necessárias em seus padrões de pronúncia.
Os procedimentos terapêuticos abordados abaixo, baseiam-se nas propostas de GRUNWELL (1990), HODSON (1983), EDWARDS, TYLER & SAXMAN (1987), MOTA (1990) e RAMOS (1991), que têm como objetivo básico facilitar a reorganização do sistema fonológico da criança. Esses procedimentos seguem as seguintes premissas:
· A criança tem um distúrbio de aprendizagem fonológica.
· Ao aprender sua fonologia, uma criança está desenvolvendo um sistema de contraste de sons cuja função é assinalar conteúdos aos significados.
· Ao aprender sua fonologia, uma criança está organizando os seus sistemas fonológicos, ou seja, ela está descobrindo as semelhanças entre os sons contrastivos e seqüências de sons.
Segundo GRUNWELL (1990), os princípios de uma terapia fonológica são os seguintes:
· Baseia-se numa avaliação e análise fonológica.
· Baseia-se no princípio de que existem padrões ou regularidades na linguagem falada da criança.
· Baseia-se no princípio de que a principal função dos padrões fonológicos é comunicativa, isto é, visa assinalar diferenças de significado.
· Tem como objetivo modificar os padrões fonológicos da criança no sentido de construir um sistema mais adequado de contrastes e de estruturas de sons.
· A terapia é planejada para usar a organização dos padrões fonológicos de forma mais efetiva possível, introduzindo e estabelecendo mudanças nos padrões da criança através do emprego de classes naturais de fones e estruturas contrastivas.
O que diferencia um tratamento com base fonológica de uma abordagem tradicional, que enfoca fonemas isolados, é a seleção de processos e traços e o fato de a terapia voltar-se a esses alvos, com o fundamento em hipóteses sobre a estrutura organizacional do sistema fonológico da criança.
Existem diferentes abordagens terapêuticas com base fonológica: os modelos que utilizam traços distintivos e os modelos que utilizam processos fonológicos como foco do tratamento.
O modelo de ciclos (HODSON,1983; TYLER, EDWARDS & SAXMAN, 1987; MOTA, 1990, RAMOS,1991) é uma abordagem de terapia para desvios fonológicos que tem por base os processos fonológicos.
Dentro dessa abordagem, enfatizam-se processos fonológicos e não fonemas isolados. Esse tratamento é maximizado pela generalização, ou seja, ao trabalhar-se determinado processo fonológico através de um determinado som alvo (fonema a ser estimulado, que é afetado pelo processo fonológico), a produção correta generalizará para outros sons que também são afetados por tal processo, sem que haja um tratamento direto desses sons. Os procedimentos terapêuticos do modelo de ciclos são os seguintes:
· Avaliação e análise do sistema fonológico da criança.
· Seleção dos processos a serem tratados e dos sons alvos a serem estimulados.
· Seleção de palavras para a prática produtiva.
· Reavaliação da fala da criança ao final de cada ciclo.
Esse modelo desenvolve-se em ciclos, que são períodos nos quais são abordados os processos fonológicos que devem ser suprimidos. Esses processos são selecionados de acordo com alguns critérios, como por exemplo, os propostos por EDWARDS & BERNHARDT (1973):
· Selecionar os processos que mais afetam a inteligibilidade da fala da criança.
· Selecionar os processos menos estáveis no sistema da criança.
· Selecionar os processos que são mais comuns em crianças pequenas.
A sessão de terapia fundamenta-se em três aspectos:
· Estimulação auditiva.
· Produção do som alvo, ou seja, do som a ser treinado dentro do processo fonológico.
· Trabalho com os pais.
Considerações Finais
A abordagem da fonologia clínica tem sido utilizada nos casos de desvios fonológicos, mostrando-se eficaz na avaliação, análise, diagnóstico e tratamento destes distúrbios. Esse enfoque proporciona uma visão mais ampla dos problemas de fala, considerando não só o aspecto fonético da produção oral, mas também a organização fonológica subjacente a essa produção. A terapia com base fonológica tem se mostrado mais eficiente para os casos de desvio fonológico, do que as abordagens puramente articulatórias, pois busca uma reorganização cognitiva do sistema de sons utilizados por essa criança.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Marchesan, I.Q., Bolaffi, C., Gomes,I.C.D., Zorzi, J.L. Tópicos em fonoaudiologia – volume II, 1995. São Paulo: Lovise, 1995.
ORIENTAÇÕES AOS PAIS – LINGUAGEM
A seguir algumas sugestões direcionadas aos pais:
· Tentar procurar reconhecer as tentativas de comunicação do seu filho e repetir com linguagem clara o que foi compreendido;
· Não atendê-lo prontamente, deixar a criança tentar se comunicar e pedir o que quer; esperar que ela tente dizer por meio de palavras o que está querendo;
· Criar condições para que a criança se comunique, por meio de palavras corretas, aquilo que ela quer expressar. Por exemplo: se a criança aponta para o filtro, pegar imediatamente o copo e perguntar-lhe: “Você quer água? Eu vou dar água a você.”
· Incentivar a criança a imitar os sons produzidos por carros, animais, tosse, espirro e fala;
· Oferecer o modelo correto de linguagem, por exemplo: se utiliza /bo/ para dizer /bola/, deve-se repetir bola;
· Não usar diminutivos ou fala infantilizada, pois não é um estilo de linguagem adequado;
· Caso a criança apresente alguma dificuldade em determinada tarefa, oferecer-lhe algo mais fácil, evitando assim frustrações por não ter conseguido êxito naquele momento;
· Procurar usar palavras simples ou frases mais curtas;
· Tenham sempre uma atitude positiva diante do problema do seu filho, não o recrimine ou brigue com ele quando fala “errado”;
· Deve haver sempre a preocupação de se impor limite ao comportamento da criança. Ela consegue entender muito bem quando pode ou quando não pode fazer alguma coisa;
· Aprendam o que puderem para ajudar a criança. Procurem os profissionais e façam perguntas a eles. Lembrem-se de que pais e profissionais possuem um objetivo em comum: o melhor para o seu filho. Troquem idéias com os profissionais, tirem dúvidas. Esta troca é muito importante para o sucesso do processo terapêutico;
· Orientem as pessoas que fiquem por alguns momentos responsáveis pela criança, caso tenham que se ausentarem. Essas pessoas devem ter as informações necessárias para que desenvolvam adequadamente o processo educacional, aproveitando as atividades da vida diária da criança (como comer, vestir-se, calçar o sapato, tomar banho...);
· O filho que apresenta qualquer dificuldade exige dos pais uma atenção especial. Porém, os pais não podem se esquecerem de suas próprias necessidades, pois são pessoas. A criança precisa aprender a respeitar a necessidade de seus pais;
· Dois recursos bastante utilizados por algumas famílias para auxiliar no desenvolvimento da linguagem oral são: o álbum de linguagem e o diário.
ð O álbum de linguagem pode ser um caderno ou pasta em que a família desenha, cola fotografias, figuras ou objetos dos eventos mais significativos que ocorreram ou que poderão ocorrer em um futuro próximo. Exemplos: passeio ao Shopping, ao zoológico, etc.
ð O diário pode ser um caderno ou agenda em que os pais registram as conquistas realizadas pela criança no dia ou semana destacada.
(Estratégias Terapêuticas - adaptado do texto de Maria Cecília Bevilacqua & Gisela Maria Pimentel Formigoni).